Wednesday, June 29, 2005

A hora da sesta vs Agora Escolha


Se há coisa que tenho saudades são as férias de Verão de três meses. Nessa altura fazia sentido chamar "férias grandes" às férias grandes, eram 92 dias de total despreocupação, em que só parava no dia antes do novo ano lectivo começar.
A minha avó Sebastiana chegava no último dia de aulas e normalmente eu já tinha feito as malas com umas duas semanas de antecedência com coisas completamente inúteis, desde roupa em excesso (tradição que se mantém ainda nos dias de hoje), a livros da escola que nunca eram tocados, a brinquedos trocados por correrias, a um saco cheio de medicamentos que nunca era aberto, enfim um número infindável de coisas que eu recusava deixar ficar em terra, com medo que me viessem a fazer falta. O pior mesmo era mudar de comboio em Campanhã, o peso das coisas, inexplicavelmente, parecia aumentar duas vezes, a que ainda era adicionado o farnel no mínimo com uns 10 kgs, o qual a minha avó não abdicava por nada e nos obrigava a comer até à última migalha.
A própria viagem de comboio já encerrava em si um pouco desse mundo fantástico que caracterizava as férias grandes, deixando adivinhar os dias fantásticos que ainda estavam para vir. E ao contrário dos dias de hoje, os comboios que circulavam na linha do Norte (ao longo do rio Douro) iam cheios de passageiros, mas para que eu e a minha irmã nãos fossemos apertadas nos bancos, sempre que o comboio parava numa estação, nós estendíamo-nos e fingíamos que estavamos a dormir (era mais esperta na altura do que sou agora).
Mas o melhor eram os dias passados em constante galhofa, a correr de um lado para o outro, a descer até ao ribeiro e ver quem regressava primeiro, a descobrir quem é que gostava de quem (eu devia estar apaixonada por uns 5, mas o único que gostava de mim era o Zé Parreco, que eu odiava), a brincar às escondidas em que valia esconder em toda aldeia (chegava a ser desesperante esperar pela última pessoa), a inventar brincadeiras, só havia uma coisa má .... a hora da sesta. Era um verdadeiro tormento ter de me deitar depois de almoço até às 4 da tarde, sem conseguir adormecer, a ouvir o tic-tac do relógio em câmara lenta, e nem valia a pena pedir para ficar a ver televisão, uma vez que só havia dois canais, e se um interrompia a emissão depois do telejornal do almoço o outro só começava lá para as 5 da tarde (porra, sou mesmo antiga).
A revolta à hora da sesta apenas surgiu uns anos mais tarde com o Agora Escolha, não havia nada que nos pudesse afastar do Tom Sawyer e da Ana dos Cabelos Ruivos, verdadeiros heróis da canalhada da altura.
Enfim, estas são meras aparas das memórias de uns dias em que o cansaço era proibido e o riso a palavra de ordem.

2 Comments:

< > said...

Olá Mónica!! Estava a prescrutar o teu blog pela 2ª vez, quando vejo esta imagem do Tom Sawyer... Que saudades!! O Agora Escolha também foi um dos meus programa de eleição na televisão que preencheu tardes bem pachorrentas da minha irrequieta infância. Quem não se lembra dos Soldados da Fortuna ou do Crime Disse Ela, ou até mesmo da Ilha da Fantasia entre tantos outros. Aqui fica a nota de apreço por esta boa lembrança. Bem hajas

6:46 AM  
< > said...

Olá mónica, parabens por este post tá muito bom. Lá numa coisa tens razão, nesse altura podiamos chamar férias grandes.Eu que estou na faculdade já me queixo das férias, imagina quando tiver a trabalhar. Este estilo de crónica faz-me as do lobo antunes, a descrição dos factos, dos lugares, das pessoas.... Até a escrita. nO teu relato tu nos transmites a saudade que sentes desse tempo. Vai continua assim
Bjs
Miguel

4:49 AM  

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