Saturday, August 05, 2006

Leituras X


"Era um leitor bastante mais voraz do que eu, mas tinha como regra nunca tocar num livro de nenhum autor que não tivesse morrido há pelo menos trinta anos. - É esse o único tipo de livros em que confio - declarou - Não se trata de não acreditar na literatura contemporânea - acrescentou -, mas não pretendo desperdiçar o meu valioso tempo de leitura com livros que ainda não passaram pelo baptismo do tempo. A vida é demasiado breve."

Começo o meu breve apontamento por citar um pequeno excerto do próprio Norwegian Wood, para demonstrar que há livros que não precisam de passar pelo "baptismo do tempo" para provarem o seu valor no panorama literário. Esperar trinta anos para poder ler Norwegian Wood, não seria apenas um "retardador do prazer literário", seria um verdadeiro sacrilégio.

Murakami traz até nós uma juventude vivida nos anos 60, em que um estudante de teatro, Toru Watanabe, partilha connosco a sua passagem para a vida adulta, confrontando-se e confrontando-nos com todas as suas experiências de vida, sendo-lhe colocado a difícil escolha entre o seu passado e o seu presente. Trata-se sem dúvida de uma bela história de amor entre Watanabe e Naoko, que tem na sua génese o suicídio de Kazuki, namorado de Naoko e grande amigo de Toru. Suicídio esse que serve de elo de ligação entre Watanabe e Naoko, mas que também leva ao afastamento destes.

O forma poética como Murakami descreve o amadurecimento e crescimento de Watanabe envolve-nos da primeira à última página, não deixando espaço para outro pensamento que não seja até onde pode ir o amor, qual a sua verdadeira dimensão.

E vale bem a pena ler este livro, nem que seja para concluir que a presença do amor na nossa vida é a razão suficiente para sermos um pouco melhores amanhã, do que somos hoje. Aliás, e para quem ler o livro, de certeza que concordará comigo quando digo que é precisamente o amor que faz com que Watanabe não se deixe levar pelo superficialismo das amizades ou pelos meros interesses materiais.

"O que acontece quando as pessoas abrem o coração? (...) - Melhoram -respondeu."