Sunday, September 25, 2005

Portugal dos Pequeninos

Atendendo ao panorama televisivo que vivemos nos dias de hoje é de salutar a reportagem transmitida ontem pela SIC sobre a dor dos pais que vêem os seus filhos morrer. Foram testemunhos comoventes, mas sem cairem na pieguice do coitadinho como costuma ser apanágio em outros pseudo-canais aqui do burgo.
Fiquei muito impressionada e até mesmo revoltada com o depoimento de uma senhora de 87 anos, que há dois anos que quer fazer o funeral ao filho e não pode por causa de uma série de burocracias legais. Resumindo o tal depoimento, tinha esta senhora um filho com 41 anos, toxicodependente, que no dia seguinte a ter começado a trabalhar como motorista de táxi, suicidou-se, atirando-se da Ponte 25 de Abril. Mais tarde veio a ser descoberto um corpo, cuja descrição física correspondia exactamente ao filho dessa senhora, mas o reconhecimento não foi possível dado o elevado grau de decomposição, tendo sido necessário recorrer ao exame de ADN. Ora, é exactamente o resultado desse exame que a tal senhora espera há dois anos, de nada valendo os constantes pedidos de informação sobre o andamento do processo. É vergonhoso que isto ainda aconteça nos dias de hoje, é vergonho que se faça isto a alguém que tem 87 anos, é vergonhoso que se faça isto a alguém que enquanto ser humano merece ser respeitado na sua dor mais profunda, é vergonhoso que exijam desta senhora um novo requerimento ao Juiz para que o processo possa acelerar quando assistimos à impunidade com que a Justiça trata os nossos autarcas corruptos.
Só lamento não poder fazer nada por esta senhora, resta-me a indignação perante um país mesquinho onde a Senhora Justiça há muito não actua com os olhos vendados.

2 Comments:

< > said...

E a verdade é que se neste país a falta de respeito pelos cidadãos é coisa comum, é ainda mais triste verificar que quando os cidadãos em questão são idosos, são relegados para último plano em qualquer lista de prioridades. Poucas são as coisas que funcionam em Portugal.

Em relação à reportagem, não a vi, porque não sabia, mas não costumo gostar deste tipo de trabalho, para encher de lágrimas o espectador. Claro que como viste, e recomendas a reportagem, então é possível que tenha sido uma boa excepção.

Beijo ;-) *

8:05 AM  
< > said...

Realmente vi parte da reportagem e também fiquei algo impressionado.
Penso que perder um filho deve ser muito doloroso, espero nunca vir a ter essa experiência.
É pena que no país existam burocracias que resultem em histórias como é o caso dessa senhora. E ainda dizem que somos desenvolvidos.
Não é só nesse contexto, mas, no global, o nosso país está muito mal e não tou a ver solução para esta longa crise.
Contudo, é preciso ter esperança.........

4:21 PM  

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