Thursday, July 26, 2007

Aimme Mann - Concerto em Lisboa 25/07/2007

Por enquanto ficam aqui as palavras do "Blitz", de uma noite absolutamente única e fantástica.
Sendo certo que "something is lost when you translate" (a Invisible Ink não fez parte da set list, infelizmente).


"Ao vivo: Aimee Mann estreia-se em Lisboa

Coliseu dos Recreios enche para uma noite onde a simplicidade foi a palavra-chave.
O Coliseu dos Recreios, em Lisboa, é – sabe-se há muito – uma sala imponente. Pela sua história, pelos vultos imensos que já passaram por aquele palco… Mas ver o Coliseu, cadeiras de plateia montadas, cheio, para receber uma música que de tão simples extrapola os limites da complexidade, torna-o subitamente mais imponente – e isso sentiu-se esta noite, dos dois lados da estreia de Aimee Mann em Portugal. É isso que justifica que a cantautora tenha, por diversas vezes, descrito o público (e a sala!) como “awesome”. Assim, simplesmente. Como a sua música.Aimee Mann há muito que passou dos 40 – mas a doçura e a suavidade da sua voz lembram muitas vezes as características de uma criança. Mesmo quando, pelas suas canções, se vão narrando histórias de desilusões, de dor – ou apenas de vida. Mann não é bem folk nem é apenas pop, é catarse mas também é melancolia, é esperança mas também introspecção. Ao longo de mais de hora e meia, acompanhada por teclas, baixo e bateria, foi mostrando a história da sua música – da estreia a solo (após o ponto final nos ‘Til Tuesday), com Whatever , ao álbum que se segue, ainda sem título mas com data prevista de lançamento para Janeiro de 2008, do qual mostrou “31 Today”.Aimee Mann é grande – realmente grande. Alta e esguia. Surge de cabelo muito loiro, escorrido. Simples. E, como ela, as suas canções são também de uma simplicidade desarmante. Não apenas pela forma praticamente crua como são apresentadas – na maioria das vezes com base na sua voz e também na sua guitarra acústica. Essas canções são reais e falam de sentimentos reais. É isso que as torna maiores do que a própria vida – e foi essa grandeza que acabou por inspirar Paul Thomas Anderson nessa viagem suprema que é Magnolia . E que acabou por catapultar Mann para os olhos da ribalta (chegou mesmo a ser nomeada, com “Save Me”, para o Oscar de Melhor Canção – mas, como a sua autora recordou em Lisboa, acabou por perder para… Phil Collins).A introspecção das canções de Aimee Mann acabou por contrastar com a forma emotiva com que se foi relacionando com o público português. Num palco (também ele!) simples e despido de quaisquer artefactos que pudessem retirar a atenção total das canções – afinal de contas, as grandes estrelas da noite -, ladeada pelos homens que tornam as suas pérolas em verdadeiras flores de aço, Aimee Mann foi narrando a sua alegria por finalmente estar em Portugal. Chegou a contar que tinham tido o privilégio de passar um dia de folga em Lisboa – e que isso lhes tinha permitido, não só passear bastante, mas comer muito bem… além de beber vinho do Porto. Perante um Coliseu cheio, com um público tímido mas sempre presente, Mann foi progressivamente rendendo-se. Dizia que a sala era linda – e agradecia quando alguém, bem junto ao palco, lhe gritava que ela também era “linda”. Foi-se arriscando e anunciou que iriam interpretar “Momentum” pela primeira vez ao vivo – “vamos ver como sai”, ia avisando. E começou por sair tão mal que Mann não teve pudor em parar: “acho que conseguimos fazer melhor”. Com o público também ele já rendido, à segunda foi definitivamente melhor.As canções de Aimee Mann são feitas de imagens – e inegavelmente foram as canções que serviram às imagens de Magnolia as grandes protagonistas do concerto. Já em fase de encore, ouviam-se os pedidos explícitos por “Wise Up” . E, como na obra de Anderson, sentiu-se aí a surrealidade da redenção que apenas uma chuva de sapos pode carregar. Perfeitamente despropositada. Propositadamente irreal. O público levantou-se e aplaudiu de pé – era esse o remate perfeito para uma noite onde a realidade, por mais cruel que possa ser, se desenhou em traços de beleza delicada. Como no filme de Anderson, nas canções de Mann cruzam-se caminhos – e hoje à noite, em Lisboa, o caminho de Aimee Mann cruzou-se finalmente com um palco português. Mesmo terminando com “Deathly”, onde canta “Now that I've met you, would you object to never seeing each other again ”, Mann deixou votos de um reencontro em breve. “Have a great night”, diria ainda. Já tinha sido.Lisboa, 25 de Julho

Little Bombs
You Could Make A Killing
One
Video
Freeway
Going Through The Motions
Save Me
Amateur
Driving Sideways
You Do
Momentum
31 Today
How Am I Different
She Really Wants You
Way Back When

Red Vines
Humpty Dumpty

Wise Up
Deathly

Sunday, July 22, 2007

David Fonseca - Superstars

Bom trabalho David!


Wednesday, July 04, 2007

Arcade Fire - Concerto visto pelo Jornal Público

(Acho que pela primeira vez estou de acordo com uma crítica a um concerto)


Primeira noite do segundo acto
Super Bock Super Rock: os versículos sagrados dos Arcade Fire
04.07.2007 - 12h13 Silvia Pereira, PUBLICO.PT


É oficial: a 13ª edição do Super Rock Super Rock tem o melhor "line-up" de que há memória. A noite de ontem, que inaugurou o segundo acto, deixou para atrás a enchente de 50 mil para ver Metallica. Perdeu em número de gente, mas ganhou no rock alternativo que, num discreto crescendo, foi subindo em direcção a uma momento intocável e instantaneamente sagrado: a actuação dos Arcade Fire.

Os Bunnyranch encontraram pouca gente – os concertos começam a meio da tarde, em dia de trabalho –, mas conseguiram mobilizar os poucos que já se encontravam lá a essa hora para o seu rock tingido de blues. Foi pena a curta duração, mas festival "oblige".

Seguiram-se os Gift, com mais uma actuação a contribuir para a fama que têm como excelente banda de palco, com as músicas a ganharem corpos diferentes mas reconhecíveis. Não sabemos onde Sónia Tavares vai parar. De cada vez que a vemos está mais segura, mais solta e mais inteligente no uso da voz. E bem humorada: colaram Depeche Mode a uma música e ainda se riram com a colagem.

A dança dos Gift antecedeu a prestação dos Klaxons. Era grande a expectativa sobre eles. Afinal, foram eles que obrigaram as casas de discos a inaugurar novo separador nos escaparates: essa tal de "new rave", para consumir sem moderação entre a dança e as guitarras. Na Londres dos Klaxons o que manda é o hedonismo. Dançar é tão obrigatório como esvaziar a mente (de preferência com a ajuda de alguma substância). A ebriedade de canções como "Atlantis to interzone" ou "Golden skans" – justamente o que seduz nos álbuns – não chegou, contudo, para fazer sair do chão. Faltou um "click", e essa falta não deixou que o efeito se consumasse. Talvez a luz do dia tenha refreado o andamento. Ao Lux com eles, já.

Os Magic Numbers foram uma boa surpresa. O recado lá dizia "Take a chance"... Os casais de irmãos, que também são casados entre si, foram ao Parque Tejo cantar o amor, de forma tão brilhante e honesta que não deu para lhes resistir, especialmente quando a tendência era para festejar com ritmos roubados à country por estes londrinos. Tudo no sítio, sem maneirismos desnecessários, e um sorriso constante a alimentar folias rock com o pulsar próprio e saudoso da beira-mar californiana.

Em direcção ao sagrado

Seguiram-se os Bloc Party, em simultânea confirmação e redenção. Confirmaram o potencial que já tinham deixado no ar de Paredes de Coura, no ano passado. Redimiram-se do concerto no Coliseu dos Recreios, em Maio, que ficou aquém das expectativas. Não deixa de ser louvável que tanta gente os tenha ido ver ao Super Bock Super Rock, pouco mais de um mês após a sua última passagem por cá. Se o público não soubesse que ainda vinham lá os Arcade Fire, a energia teria sido toda gasta aqui, ao som de temas como "Like eating glass" ou "Helicopter". Curisoso como foi com o rock mais sério dos Bloc Party, com mais sorriso que hedonismo, que a noite mais se aproximou da tal new rave.

Nos quinze minutos que se seguem, começa o nervoso miudinho. Nos ecrãs gigantes, aparece uma criança a pregar aos seus pecadores com convicção de gente grande. Chega a ser assustador. Olhamos para o lado, para o palco. Lá estão os Arcade Fire. Lá está uma alternativa bem melhor de salvação. "Black mirror" entra em cena e dá-se, imediatamente, uma fuga para outra dimensão. Isto é diferente de tudo o que ouvimos e igual a tudo o que já sentimos. Vem aí uma celebração da vida. Sem rodeios, a olhar a morte de frente. Agarrada ao chão, mas com os olhos no céu. Feita de virtudes manchadas de pecados, que gritam por uma salvação que nunca virá – nem precisa de vir. Melancolia festiva, com os coros das grandes canções, o toque puro da tradição e a urgência dos dias de hoje.

Os Arcade Fire nunca foram um "hype", foram sempre uns senhores. Há algo que os distingue de toda a leva de bandas que, nos últimos anos, foram enaltecidas pelo rock alternativo como salvadoras. Esse algo é, em primeiro lugar (só depois vem a genialidade), a paixão. Não estamos a falar amorosamente. Estamos a falar daquela paixão que se coloca sem condições nas pequenas e grandes coisas que mais prazer dão a uma pessoa. Olha-se para o palco e é isto que se vê: uma formação demasiado grande para definições estereotipadas, mas ideal para a entrega que estas canções merecem. Cortina de veludo vermelho, ecrãs redondos, muitos músicos em palco, instrumentos para todos os gostos, músicos a revezarem as posições, metais a tocar-se, os violinos a aconchegarem emoções. Não há coração nem instrumento em palco que não pareça estar a viver só para aquele momento, para dar vida a canções como "Rebellion (lies)", "Intervention", "The well and the lighthouse" ou "Keep the car running".

Se há concertos que valem pela memória que reclamam, um concerto destes vale pela memória que constrói naquele preciso momento. É por isso que, tão cedo, ninguém se vai esquecer desta noite. É por isso que ninguém ainda se esqueceu da grandiosa estreia em Paredes de Coura, tão marcante que nem parece ter sido há apenas dois anos. É por isso que ninguém arreda pé sem ter a certeza de que os Arcade Fire já saíram mesmo de palco. E é por isso que, apesar de querer mais, o público se dispersa a cantar e a desejar que o futuro ande depressa até ao próximo reencontro com a banda canadiana. Não é bem um adeus. É uma despedida com juras de amizade e promessa de regresso breve.

Arcade Fire - O melhor concerto de sempre no Super Rock Super Bock

Se eles conseguem fazer isto num elevador,



agora (para os que não foram) tentem imaginar tudo isto num palco. A entrega e a paixão são tão genuínas e intensas que é impossível uma pessoa não se sentir completamente esmagada pela performance deles, em palco até pareciam mais de 1000. What a fucking great moment.