Thursday, September 29, 2005

E assim passam os dias ....

(Foto de Luís Ventura)


Passamos pelas coisas sem as ver,
gastos, como animais envelhecidos:
se alguém chama por nós não respondemos,
se alguém nos pede amor não estremecemos,
como frutos de sombra sem sabor,
vamos caindo ao chão, apodrecidos.
Eugénio de Andrade

Sons


Este álbum é tão bom, mas tão bom que devia ter uma versão tipo saco de soro, para nós enfiarmos directamente na veia e ficar a fazer parte da nossa corrente sanguínea.

31 Canções

Aqui vai a resposta aos meu desafio, que muitas dores de cabeça me deu para que fossem mesmo 31 canções:

Aimee Mann - Invisible Ink

Air - Alone in Kyoto

Amália Rodrigues - Gaivota

Beatles - Hey, Jude

Beck - Everybody's Gotta Learn Sometimes

Ben Harper - Strawberry Fields Forever

Björk - Joga

Bryan Ferry - More Than This

Chico Buarque - Valsinha

David Bowie - The Man Who Sold The World

David Fonseca - Haunted Home

Elis Regina e Tom Jobim - Por Toda a Minha Vida

Jacques Brel - Ne Me Quitte Pas

Josh Rouse - Flight Attendant

Kate Bush - Running Up That Hill

Madonna e Massive Attack - I Want You

Massive Attack - Angel

Pearl Jam - Evenflow

Pedro Abrunhosa - Mais Uma Noite a Vencer

Pixies - Gigantic

Prince - When The Doves Cry

Rufus Wainright - Across the Universe

Ryuichi Sakamoto - Lost Child

Ryuichi Sakamoto e Morelembaum2 - Estrada Branca

Ryuichi Sakamoto e David Sylvian - World Citizen

Ryuichi Sakamoto e David Sylvian - Forbidden Colours

Samuel Barber - Adagio for strings

Sérgio Godinho - Mudemos de Assunto

Sérgio Godinho - Dancemos no Mundo

Smashing Pumpkins - Tear

The Cure - Lullaby

Tom Waits - I Hope I Don't Fall in Love With You

Sunday, September 25, 2005

Portugal dos Pequeninos

Atendendo ao panorama televisivo que vivemos nos dias de hoje é de salutar a reportagem transmitida ontem pela SIC sobre a dor dos pais que vêem os seus filhos morrer. Foram testemunhos comoventes, mas sem cairem na pieguice do coitadinho como costuma ser apanágio em outros pseudo-canais aqui do burgo.
Fiquei muito impressionada e até mesmo revoltada com o depoimento de uma senhora de 87 anos, que há dois anos que quer fazer o funeral ao filho e não pode por causa de uma série de burocracias legais. Resumindo o tal depoimento, tinha esta senhora um filho com 41 anos, toxicodependente, que no dia seguinte a ter começado a trabalhar como motorista de táxi, suicidou-se, atirando-se da Ponte 25 de Abril. Mais tarde veio a ser descoberto um corpo, cuja descrição física correspondia exactamente ao filho dessa senhora, mas o reconhecimento não foi possível dado o elevado grau de decomposição, tendo sido necessário recorrer ao exame de ADN. Ora, é exactamente o resultado desse exame que a tal senhora espera há dois anos, de nada valendo os constantes pedidos de informação sobre o andamento do processo. É vergonhoso que isto ainda aconteça nos dias de hoje, é vergonho que se faça isto a alguém que tem 87 anos, é vergonhoso que se faça isto a alguém que enquanto ser humano merece ser respeitado na sua dor mais profunda, é vergonhoso que exijam desta senhora um novo requerimento ao Juiz para que o processo possa acelerar quando assistimos à impunidade com que a Justiça trata os nossos autarcas corruptos.
Só lamento não poder fazer nada por esta senhora, resta-me a indignação perante um país mesquinho onde a Senhora Justiça há muito não actua com os olhos vendados.

Monday, September 19, 2005

Prendemos as mãos


Prendemos as mãos na ansiedade um do outro, descobrindo que há palavras que não são somente palavras.
Prendemos as mãos quando mais nada havia para prender, afastando as vozes das árvores que vivem como fantasmas em florestas abandonadas e devoram os raios que se escondem na penumbra.
Prendemos as mãos como todas as mãos que se prendem, despertando as alvoradas que acordam os dias submersos e mergulhados em estilhaços que pisamos no chão.
Prendemos as mãos nos lábios um do outro, desejando que o nosso mundo se resumisse todo num só beijo, para que a vida fosse tão fácil de partilhar como um sorriso.
Prendemos as mãos sem redes que suportem a queda de um horizonte, esperando que todas as noites comecem como todos os dias ... com um abraço.
Mónica

Desafio

Estou a pensar em postar as minhas "31 canções", apesar de achar que não devo ter assim tantas como Nick Hornby. Gostava que vocês fizessem o mesmo, que pelo menos deixassem uma outra música que vocês gostem realmente.

Leituras VI



O segundo livro não ficcionado de Nick Hornby (o primeiro foi Fever Pitch, sobre a sua paixão sobre o futebol), que após a adaptação ao cinema do seu best-seller Alta Fidelidade passou a ser considerado um autor de culto. É o terceiro livro de Hornby que leio (além do Alta Fidelidade, li o Como Ser Bom e estou a ler actualmente Um Grande Salto ... sim, eu adoro a forma como Hornby escreve), pelo que as expectativas só podiam ser boas.
No fundo, estamos perante uma autobiografia que tem como cenário principal as canções que acompanharam (e acompanham) Nick Hornby ao longo da sua vida, mas ao contrário do que acontece normalmente nas autobiografias, não é a vida do autor que importa, mas sim as músicas em si mesmas,

Só podemos partir do princípio que as pessoas que dizem que o seu disco preferido de sempre lhes faz lembrar a sua lua-de-mel na Córsega, ou chihuahua da família, não gostam particularmente de música. O que eu queria acima de tudo era escrever sobre o que me levava a amá-las, e não sobre o que eu trazia a essas canções.
As 31 canções escolhidas por Hornby não podiam ser mais diferentes umas das outras, mas o resultado final da sua escolha também não poderia ser outro, porque nós não somos um só, cada momento tem o seu próprio reflexo na nossa forma de ser. Portanto, nem me interessa discutir o critério de escolha de Hornby, primeiro - e recorrendo a um cliché - gostos não se discutem, e segundo porque se a música é uma manifestação de sentimentos e sabendo que o ser humano não é monocórdico na sua forma de ser, é natural que Nelly Furtado surja ao lado dos Led Zeppelin.

Doiro


Doiro

Corre, caudal sagrado,

Na dura gratidão dos homens e dos montes!

Vem de longe e vai longe a tua inquietação:

Corre, magoado,

De cachão em cachão,

A refractar olímpicos socalcos

De doçura

Quente.

E deixa na paisagem calcinada

A imagem desenhada

Dum verso de frescura

Penitente.

MIGUEL TORGA, Antologia Poética


Saturday, September 03, 2005

O que nos vai na alma

No entanto às vezes, muito de vez em quando, há canções, livros, filmes e fotografias que exprimem o que somos na perfeição. E não o fazem necessariamente por palavras ou por imagens; a associação é muito menos directa e mais complicada do que isso. Quando estava começar a escrever a sério, li Dinner at the Homestick Restaurant, de Anne Tyler, e de repente compreendi o que era, e o que queria ser, desse por onde desse. Trata-se de um processo semelhante ao da paixão. Não escolhemos necessariamente a melhor pessoa, nem a mais sensata, nem mais bonita; há um processo diferente a decorrer. Havia uma parte de mim que preferia ter optado por Updike, Kerouac, ou DeLillo - alguém do sexo masculino, pelo menos, possivelmente alguém um pouco mais opaco, e certamente alguém que dissesse mais palavrões - e embora tenha sentido admiração por esses escritores em diversos períodos da minha vida, a admiração é uma coisa muito diferente da que estou a falar. Estou a falar como se entendesse - ou pelo menos a sentir que entendo - todas as decisões artistícas, todos os impulsos, a alma tanto da obra como do seu criador. "Isto sou eu" foi o que me apeteceu dizer quando li o romance rico, triste e adorável de Tyler. "Eu não sou um personagem, não tenho nada a ver com autora nem passei pelas experiências de que ela fala. Mas mesmo assim, é assim que me sinto por dentro. Era assim que a minha voz soaria, se eu algum dia encontrasse uma voz."E acabei por encontrar uma voz, e ela era a minha e não a dela; mas apesar de tudo, o processo de identificação era tão forte que ainda não sinto que me tenha conseguido exprimir assim tão bem, de uma maneira tão completa, como Tyler exprimiu o que me ia na alma naquela altura.
NICK HORNBY in 31 Canções

Leituras V



A leitura deste livro é, naturalmente, a consequência do visionamento desse grande blockbuster de Verão, realizado pelo Tim Burton e protagonizado pelo ........ aiiiiiiiiiiii ........ aiiiiiiii ......... aiiiiiiiiii (preciso de respirar fundo) Jooooooooooooooooooooohnny Depp.

Claro que o filme não é tal e qual o livro, mas também o que importa é a lição de moral doce e achocolatada que é dada aos meninos mal comportados, e essa sim, é a verdadeira protagonista do filme e do livro. Se Burton é conhecido pela sua imaginação ilimitada nos filmes que realiza, Dahl não lhe fica atrás nos livros que escreve. É a primeira vez que leio este autor, e fiquei até surpreendida por ser um autor super conhecido, sendo os seus livros de leitura obrigatória no ensino básico norte-americano. Pois além da parte lúdica há nas suas histórias uma importante vertente educativa e moralista (digo moralista, sem a carga negativa com que usamos muitas vezes esta palavra), com o objectivo de criar uma sociedade melhor (a semelhança do que acontecia com as fábulas de La Fontaine).

Aconselho este livro doce e cremoso a todos que ainda têm uma criança dentro de si e que não se importam com as borbulhas provocadas pelos chocolates ;)

Esclarecimento

Encontrei o texto seguinte num site sobre o escritor Gabriel Garcia Márquez, e como muitos de vós devem ter recebido o mail em questão, assim como eu recebi, achei importante partilhar este esclarecimento convosco. Pois o tal mail, além de ser lamechas e piroso ainda consegue ser falso quanto ao seu conteúdo.
"Em nossos dias circula pela Internet um texto cuja autoria foi atribuída a García Márquez, um tipo de "carta de despedida", pois estaria o autor prestes a falecer em virtude de um câncer linfático. Segundo a "Crônica do falso adeus" de Orlando Maretti, "Gabriel García Márquez, ou Gabo, para os amigos, ... não apenas negou, pela imprensa, que estivesse em estado terminal como também espinafrou a pieguice do texto e seu autor, identificando-o como um subliterato latino-americano. Em recente entrevista ao jornal espanhol El País, o escritor colombiano lamenta a repercussão do texto."

Leituras IV

Apesar de este romance só ter sido publicado em 1994, a sua história começou a escrever-se na cabeça de Gabriel Garcia Márquez muitos anos antes, quando em 1949, sendo ainda um jovem jornalista, fora destacado para cobrir a remoção das criptas funerárias do Convento de Santa Clara. Durante essa remoção foi descoberto um cadáver com uma cabeleira de 22 metros e 11 centímetros de uma Sierva María de Todos los Ángeles, o que fez recordar a este escritor colombiano uma velha história que a sua avó lhe contara sobre uma marquesa de longa cabeleira, que morrera muito nova por causa do ataque de um cão raivoso, e, desde então havia sido considerada uma mártir, sendo-lhe atribuídos diversos milagres.

Márquez aproveitando-se destes factos acaba por criar a sua própria história, a qual não poderia deixar de ser uma história de amor, neste caso entre Sierva María e um padre espanhol Cayetano Delaura, que sob o pretexto de a exorcizar acaba por se apaixonar por ela,

E sem lhe dar tempo a sentir pânico libertou-se da matéria podre que o impedia de viver. Confessou-lhe que não passava um momento sem pensar nela, que tudo o que comia e bebia tinha o sabor dela, que a vida era ela a toda a hora e em todos os lugares, como apenas Deus tinha o direito e o poder de ser e que o prazer supremo do seu coração seria morrer por ela.

A minha apreciação a um livro de Gabriel Garcia Márquez nunca poderá ser imparcial, ou não fosse O AMOR NOS TEMPOS DE CÓLERA, a história de amor mais bonita que algum dia alguém já escreveu. Folhear um livro de Garcia Márquez é sentir os aromas exóticos e o calor húmido dos trópicos a soltar-se de cada página, e sobretudo, é encontrar o amor na sua forma mais ternurenta e comovente. Creio, que só por isso, já vale a pena ler este livro.

Friday, September 02, 2005

Leituras III



O que me levou a ler este livro, foi sem dúvida a esperança de encontrar a elegância e a precisão na descrição das relações humanas como já havia acontecido no livro "As Horas". Contudo, estava longe de imaginar que Cunningham pudesse ir ainda mais longe deixando-me completamente dependente das suas páginas.
O livro resulta do encontro de três personagens (Jonathan, Bobby e Clare) distintas que buscam o amor e a amizade construindo a sua própria família, longe dos convencionalismos sociais e com a consciência da fragilidade das relações modernas, sendo uma constante o desequilíbrio desta relação tripolar (e nisto cunningham é absolutamente genial).
Este é daqueles livros que não se lêem mas que se vivem, porque todos nós procuramos a nossa casa, em que as paredes sejam de abraços e a lareira seja alimentada com o calor de alguém que nos ame, independentemente das imperfeições dos nossos acabamentos.

Thursday, September 01, 2005

Já agora ...

(no canto superior esquerdo há uma pequena informação sobre a transmissão em simultâneo para a SIC e para a SIC Notícias)
Importam-se também de transmitir na SIC Comédia??????